sábado, 14 de fevereiro de 2015

O Cristão deve estudar Teologia?

O cristão deve estudar teologia?
De um lado vejo muitos cristãos que desejam estudar teologia, se aprofundar nas coisas de Deus. Por outro lado, vejo muitos outros que dizem que teologia te afastará de Deus, que “a letra mata” ou que não adianta saber tudo de teologia se não viver ou adorar, etc.
O cristão deve estudar ou não teologia?
Eu diria que sim. O cristão deve estudar teologia bíblica. Deve se aprofundar no conhecimento de quem é Deus, seus atributos, se aprofundar no conhecimento bíblico, história da igreja, saber interpretar o texto bíblico, se possível aprender as línguas originais… Porém, no mínimo, o cristão deve estudar e se dedicar a se aprofundar no conhecimento das escrituras. O fato de o Espírito Santo instruir e nos direcionar não elimina o fato de nós devemos nos debruçar diante do texto e nos aprofundar, buscar o contexto, caso contrário falaremos muitas besteiras que não tem nada a ver com o texto bíblico (eu já vi isso MUITAS vezes de pastores que eram homens de Deus).
Aqueles que dizem que a letra mata, ou que não precisam conhecer a bíblia de capa a capa, mas que basta aplicar um versículo e tudo bem, estão mais próximos de aplicar a bíblia como Satanás aplicou quando tentou Jesus do que de fato compreendê-la. Se não tivermos uma noção clara do texto completo, de maneira nenhuma conseguiremos interpretar um texto isolado. Conhecer muito da bíblia não é defeito é qualidade. Não praticar é defeito. Mas sem conhecer, é impossível praticar.
Se você já é cristão a mais de um ano e nunca leu a bíblia toda, e não a lê todos os dias, e não procura aprender da bíblia ainda mais, tem algo muito errado com você.
Porém, vejo que muitos ao estudar teologia se tornam frios, donos da verdade e querendo resposta para tudo. Sinceramente, eu não acredito em teologia que não nos leve a chorar diante de Deus.
Se a teologia que você estuda não te colocar de joelhos diante de um Deus Grande e Insondável com a total convicção de que você é pequeno e limitado, então sua teologia não é boa o suficiente.
Muitos ao estudar acham que tem resposta pra tudo. Essa teologia estuda sobre deus, mas não sobre o Único e Verdadeiro Deus. Ao nos aproximarmos dEle, caímos de joelhos certos de que nada somos.
Que possamos a cada dia mais ser completamente sedentos por Ele,

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Sacerdote na Bíblia

É aquele que entre os hebreus faz ou ministra os sacrifícios a Deus. Entre os gentios também se chamava sacerdote ao sacrificador.

Antes de considerar os vários aspectos bíblicos do sacerdote, é necessário mostrar quais são as características essenciais do sacerdócio. Que devia o sacerdote fazer, na sua qualidade de sacerdote, que nenhum outro pudesse realizar sob quaisquer circunstâncias? A mais exata definição de sacerdote acha-se em Hb 5.1. O sacerdote era ”constituído nas coisas concernentes a Deus a favor dos homens”. Quer isto dizer que ele apresentava ao Senhor coisas, dons e sacrifícios, ofertas do homem a Deus; e o seu trabalho era realmente oposto ao do profeta, que devia revelar Deus ao homem. Nesta consideração, a idéia fundamental de sacerdote é a de um mediador entre o homem e Deus. O sacerdote apresenta-se entre o homem e Deus, como na verdade aparece o profeta entre Deus e o homem.
Quando o sacerdote efetuava qualquer outro trabalho, já não era como sacerdote que exercia essa missão, mas somente como executante das funções de outros homens. Este ato do sacerdote, na sua obra para Deus, é sempre acentuado nas Sagradas Escrituras (Ex 28.1; Ez 44.16; Hb 7.25). Nos tempos patriarcais, o chefe da família, ou da tribo, operava como sacerdote, representando a sua família diante de Deus. Foram assim considerados Noé, Abraão, Isaque e Jacó.
Na época do Êxodo havia israelitas que possuíam este direito de sacerdócio, e o exerciam; mas tornou-se necessário designar uma ordem especial para desempenhar os deveres sacerdotais, sendo a tribo de Levi a escolhida para esse fim. Desta tribo saíram os sacerdotes arônicos, que eram os mediadores entre o homem e Deus. Os filhos de Arão eram sacerdotes, a não ser que tivessem sido excluídos por qualquer incapacidade legal. Esta disposição continuou no reino do Sul por todas sua história. E o fato de ter Jeroboão instituído o seu próprio sacerdócio mostra a essencial necessidade de uma mediação. Desta maneira o sacerdócio atestava a vida pecadora do homem, a santidade de Deus, e por conseqüência a necessidade de certas condições, para que o pecador pudesse aproximar-se da Divindade.
O homem devia ir a Deus por meio de um sacrifício, e estar perto de Deus pela intercessão. Quando Esdras voltou do cativeiro, reconstituiu as determinações leviticas, assim continuando tudo na sua substância até à destruição de Jerusalém, no ano 70(a. C.).

No Novo Testamento, as poucas passagens nos evangelhos em que ocorre a palavra sacerdote referem-se apenas ao sacerdócio judaico. Em relação com o Cristianismo, o termo “sacerdote” nunca é aplicado senão a Jesus Cristo. As funções sacerdotais, relacionadas com o sacrifício e a intercessão, acham-se, freqüentemente, no Novo Testamento em conexão com Jesus Cristo (Mt 20.28; Rm 8.34; Ap 1.5); mas somente na epístola aos Hebreus, é que estas funções lhe são atribuídas como sacerdote. O sacerdócio de Cristo é a nota tônica da epístola aos Hebreus, e emprega-se para mostrar a diferença entre a imaturidade e a maturidade espiritual.
Aqueles que conhecem Jesus Cristo como Salvador têm um conhecimento elementar do mesmo Jesus como Redentor; mas os que o conhecem como Sacerdote são considerados como possuidores de maior conhecimento e experiência. A redenção é, em grande parte, negativa, implicando livramento do pecado; mas o sacerdócio é inteiramente positivo, envolvendo o acesso a Deus.
Os cristãos hebreus conheciam Cristo como Redentor, mas deviam também conhecê-Lo como Sacerdote, oferecendo-se então a oportunidade de um livre e corajoso acesso a Deus em todos os tempos. Este sacerdócio de Cristo acha-se associado com o de Melquisedeque, um sacerdócio misterioso, que vem mencionado em Gn 14, e recordado em tempos posteriores no Salmo 110. O argumento da epistola aos Hebreus é que o fato de ter sido mencionado naquele Salmo um sacerdócio diferente do de Arão, era uma prova de que alguma coisa superior ao sacerdócio de Arão era necessária. O sacerdócio de Melquisedeque é referido para explicar a pessoa Divina do sacerdote, sendo a sua obra ilustrada com o sacerdócio arônico, visto como não havia uma obra sacerdotal em conexão com Melquisedeque.
O sacerdócio de Cristo é considerado como estável e eterno, não sendo jamais delegado a qualquer outra pessoa (Hb 7.24). E este caráter do sacerdócio é devido ao fato de que o sacrifício de Jesus Cristo é superior aos sacrifícios do Antigo Testamento, pois é completo, espiritual e eficaz para a redenção (Hb 9.12 a 14; 10.11 a 14). Deste modo o sacerdócio de Cristo nos ensina aquela grande verdade de que o Cristianismo é a “religião do acesso ; e revela-se isso na exortação “aproximai-vos”.
Em Cristo todos os crentes são considerados como sacerdotes; mas o ministro do Evangelho, distinto na verdade do leigo, nunca no Novo Testamento é mencionado como sacerdote. Ele é o presbítero ou o ancião, palavras que têm uma idéia inteiramente diferente. Mesmo o sacerdócio, na referência aos crentes, nunca está associado com os cristãos individuais, mas tem-se em vista a sua capacidade de corporação: “sacerdócio santo” (1Pe 2.5). A verdade fundamental a respeito do sacerdócio no Novo Testamento  é esta: O Servo é um sacerdote!
> Informações completas, compiladas da Bíblia sobre o SACERDOTE:

a) Primeira menção de pessoas a agirem como Sacerdote. Gn 4:3.4b) Durante o período patriarcal, os chefes agiam como tais. Gn 8:20: 12:8: 35:7c) Após o Êxodo, certos jovens (primogênitos) fora, nomeados para agirem como tais. Ex 23:5 com, 19:22d) Os filhos de Arão nomeados sumo sacerdotes por estatuto perpetuo. Ex 29:9: 40:15e) Todos, com exceção da descendência de Arão. Excluídos do sacerdócio levíticoNm 3:10; 16:40: 16:7f) Santificados por Deus para o oficio. Ex 29:44g) Publicamente consagrados. Ex 28:3; Nm 3:3
> Cerimônia de Consagração:a) Lavagem em água, Ex 29:4: Lv 8:6b) Vestir em vestes santas  Éx. 29:8.9: 40:14: Lv 8:13c) Ungir com óleo. Ex 30:30: 40:13d) Oferecer sacrifícios, Ex 29:10-19: 8:14-23e) Purificação pelo sangue do carneiro da consagração. Ex 29:20.21: Lv8:23.24e) Imposição das mãos sobre, a oferta movida. Éx 29:22-24: Lv 8:25-27f) Participar dos sacrifícios da consagração, Ex 29:31-33: Lv 8:31,32g) Duravam sete dias. Éx. 29:35-37: Lv 8:33h) Tinham de ficar no tabernáculo sete dias após sua consagração. Lv 8:33-36i) Nenhuma Pessoa, defeituosa podia ser consagrada para o sacerdócio levítico. Lv 21:17-23j) Era necessário provar a genealogia, antes de exercer o oficio. Ed 2:62: Nm 7:64
> Suas Vestes:
a) Túnica. Ex 28:40: 39:27b) Cinto. Ex 20:40c) Tiaras, Ex 28.40: 39:28d) Calções de linho. Ex 28:42: 39:28e) Usadas na consagração, Ex. 29:9: 40:15f) Sempre usadas enquanto oficiavam no tabernáculo. Is 28:43: 39:41g) Usadas pelo sumo-sacerdote no dia da expiação. Lv 16:4h) Purificadas por sangue aspergido Ex 29:21i) Guardadas em câmara santa. Ex 44:19j) Freqüentemente providas pelo povo. Ed 2:68,69: Nm 7:70.72k) Era necessário lavar-se na bacia de bronze antes de realizarem seu serviço. Ex 30:17.21
> Seus serviços:a) Tomar conta do tabernáculo, etc Nm 18:1,5.7b) Cobrir os objetos sagrados do santuário antes de sua remoção. Nm 4:5-15c) Oferecimento de sacrificio.. Lv cap. 1 a 6; 2 Cr 29:34: 35:11d) Acender e conservar em ordem as lâmpadas do santuário. Ex 27:20.21; Lv 24:3.4e) Conservar sempre aceso, o fogo do altar, Lv 6:12.13f) Queimar o Incenso. Ex 30:7.8: Lc 1:9g) Colocar e remover os pães da  proposição. Lv 24:5-9h) Oferecer os primeiros frutos. Lv 23:10.11; Dt 26:3.4i) Abençoar o povo. Nm 6:23-27j) Purificar os imundos.. Lv 15:30.31k) Decidir os casos de ciúme. Nm 5:14.15l) Decidir os casos de lepra. Lv 13:2-59: 4:34-45m) Julgar os casos de controvérsia. Dt 17:9-13; 21:5n) Ensinar a lei. Dt 33:0.10: Ml 2:7o) Tocar as trombeta em várias ocasiões. Nm 10:1-10: Is 6:3.4p) Transportar a arca. Js 3:6.17; 6:12q) Encorajar a povo, ao irem à guerra. Dt 20:1-4r) Avaliar as coisas devotadas. Lv 27:8s) Tinham de viver do altar, visto que não possuíam herança. Dt 18:1.2; 1 Co 9:13
> Viviam sobre leis especiais:a) Não podiam casar-se oca mulheres divorciadas ou impróprias. Lv 21:7b) Não podiam contaminar-se pelos mortos, exceto pelos parentes mais próximos. Lv 21:1-6c) Não podiam beber vinho, etc., enquanto estivessem servindo no tabernáculo. Lv 10:9; Ez 44:21d) Não podiam contaminar-se, comendo o que tinha morrido por si mesmo. Lv 22:8e) Enquanto estivessem imundos, não podiam realizar qualquer serviço. Lv 22:1.2 com Nm 19:6.7f) Enquanto estivessem imundos, não podiam comer das coisas santas. Lv 22.3-7g) Nenhum hospede ou servo contratado podia comer de sua porção. Lv 22:10h) Todos os servos comprados os nascidos na casa, podiam comer de sua porção. Lv 22:11i) Seus filhos, casados com estranhos, não podiam comer sua porção. Lv 22:12j) As pessoas que ignorantemente comessem de suas coisas santas, tinham de fazer, restituição. Lv 22:14-16k) Divididos por Davi em vinte e quatro turmas.  Cr 24:1-19; 2 Cr 8:14; 35:4.5l) As quatro turmas que voltaram da Babilônia subdividiram-se em vinte e quatro. Ed 2:36-39   com Lc 1:5m) Cada turma tinha seu Iíder. 1Cr  24.6,31:  2Cr 36:14n) Seus serviços divididos por sorte.  Lc 1:9o) Castigo para quem invadisse seu oficio. Nm 16.1-35; 10:7; 2Cr 26:16-21p) Em ocasiões especiais, pessoas não pertencentes à família de Arão agiram como sacerdotes Jz 6:24-27; 1Sm  7:9; 1Rs 18:33
Foram algumas vezes:a) Foram cobiçosos. 1Sm 2:13-17b) Foram beberrões. Is  28:7c) Foram profano, e ímpios. 1Sm 2:22-24d) Focam injustos. Jr 6:13e) Foram corruptores da lei. Is 28:7 com Ml 2:8f) Foram lentos em santificar-se ao serviço de Deus.. 1Cr 29:34g) Geralmente participavam com o povo, em seu castigo. Jr 14:10;  Lm 2:20h) Ou mais vis do povo feitos sacerdotes por Jeroboão e outros. 1Rs 12:31; 2Rs 17:32i) Suas cerimônias, ineficaz para remover o pecado. Hb 7:11; 10:11
Ilustram:a) Cristo. Hb 10:11.12b) Os Santos.. Ex 19:6: 1Pe 2:9
Leis referentes: 
Is 29:1; 40:15; Lv 10:9; 21:1; Ed 7:24; Ne 7:65
Deviam ser santos:
Ex 19:22; Lv 
10:3; 21:6;  22:9; 2Cr 6:41; Is 52:11; Ml 2:7
> Alguns Idolatras. Exemplo:
Jz 17:5; 1 Sm 5:5; 1Rs 12:31; 13; 2 Rs 10:11; 11:18; 23:5.20
Seus Alimentos: 
Ex. 29:32; Lv 6:16; 7:6.15; 8:31; 10:12,17;  24:9: Nm 18:31
Sua Herança: 
Nm 18:20; 26:62; Dt 10:9; 12:12; 14:27; 18:2; Js 13:14; 14:3; 18:7; 
Ez 44:28; 45:4.
Sumo Sacerdotes:a) Especialmente chamado por Deus. Ex 28:1.2;  Hb 5:4b) Consagrado para seu oficio. Ex 40:13; Lv 8.12
Era chamado de:
a) O sacerdote. Ex 29:30; Ne 7:65b) Sumo-sacerdote de Deus. At 23:4c) Príncipe do povo. Ex 22:28 com At 23:5d) Seu oficio. Hereditário. Ex 29:29e) Segundo em categoria, após o rei. Lm 2.6f) Freqüentemente exercia poder civil principal. 1 Sm 4:18
Seus Deveres:
a) Oferecer dons e sacrifícios. Hb 5:1b) Acender as lâmpadas sagrada.  Ex 30.8; Nm 8:3c) Fazer expiação ao santo dos  Santos, uma vez por ano. Lv 16; Hb 9:7d) Apresentar ao Senhor os nomes das tribos de Israel, como memorial.
Ex 28:12,29
e) Interrogar a vontade de Deus pelo Urim e Tumim.  1 Sm 23:9-12: 30:7.8f) Consagrar os levitas. Nm 8:11-21g) Nomear sacerdotes aos, diversos ofícios. 1 Sm 2.36h) Cuidar do dinheiro coligido no tesouro sagrado. 2 Rs 12:10; 22:4i) Presidir o tribunal superior.  Mt 26:3.57-62; At 5.21-28; 23.1-5j) Fazer o recenseamento do povo.  Nm 1:3k) Abençoar o povo. Lv 9:22.23l) Algumas vezes capacitado a profetizar. Jô 11.49-52
> Comissionado:a) Chamado de segundo sacerdote. 2 Rs 25:18 b) Exercia supervisão sobre o tabernáculo. Nm 4.16c) Exercia supervisão sobre os levita.. Nm 3:32 d) Precisava casar-se com uma virgem da família de Arão.  Lv 21.13,14e) Proibido lamentar quem quer que fosse. Lv 21:10-12f) Devia ser terno e compassivo. Hb 5:2g) Precisava oferecer sacrifício por si mesmo. Hb 5:1-3
Tipificava Cristoa) Por ser chamado por Deus. Hb 5:4,5b) Por seu título. Hb 3:1c) Por sua nomeação. ls 61:1; Jo 1:32-34d) Por fazer expiação.  Lv 16:33: Hb 2:17e) Por suas vestes esplendidas. Ex 28:2 com Jo 1:14f) Por estar sujeito à tentação, Hb 2:18g) Por sua compaixão e simpatia pelos pobres e ignorantes. Hb 4.15; 5.1,2h) Por casar-se com uma virgem. Lv 21:13.14; 2 Co 11:2i) Pela santidade de seu oficio. Lv 21:15 com Hb 7:26j) Por realizar sozinho todo o culto no dia da expiação. Lv 16 com Hb 1:3k) Por trazer os nomes das tribos de Israel sobre o coração.
Ex 28.29 com Ct 8.6
l)Porque só ele entrava no santo dos Santos.
Hb 9.27 com vers. 12,24 e Hb 4.14
m) Por sua intercessão. Nm 16:43-48: Hb 7:25 n) Por sua benção. Lv 9.22,23; At 3.26
Inferior a Cristoa) Por necessitar de expiação para seus  próprios pecados.
Hb 5:2,3; 7:26-28; 9:7
b) Por ser da ordem de Arão. Hb 6:20; 7:11-17; 8:4.5 com vers. 1.2,6c) Por ser sem juramento. Hb 7:20-22d) Por são ser capaz de continuar. Hb 7.23,24e) Por oferecer continuamente o mesmo sacrifício. Hb 9:25,26,28; 10:11,12,14f) Por entrar anualmente no santo dos Santos. Hb 9.7,11,15

Elias R. Oliveira

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Lutero e o Estudo Profundo da Bíblia



Lutero achava essencial que o preparo de sermões incluísse a leitura diligente da Bíblia. Entendia ele que se quisesse pregar bem, teria de conhecer profundamente as Escrituras. Cada uma de suas exposições bíblicas refletia horas concentradas de leitura cuidadosa da Palavra. Thomas Harwood Pattison observa que: “O seu amor pela Escritura fez de Lutero um grande pregador bíblico. O próprio Lutero tinha fome de conhecer mais as Escrituras, como alguém a quem por muito tempo tivesse sido negado o alimento necessário”.[1] E o historiador Jaroslav Pelikan, diz: “Ele estava de tal maneira saturado pela linguagem e pelo pensamento da Bíblia que muitas vezes a citava sem estar consciente disso”.[2] Em palavras simples, Lutero devorava o texto bíblico com voraz apetite.

Continuamente, Lutero lutava com as palavras dos escritores bíblicos. Refletindo sobre suas muitas horas gastas examinando as Escrituras, ele disse:

Quando jovem, eu me familiarizei com a Bíblia. Ao lê-la vez após vez, passei a conhecer o caminho em meio a ela. Só depois disso é que consultei escritores [de livros a respeito da Bíblia]. Mas finalmente, tive de tirá-los todos de minha vista e lutar com a própria Bíblia. É melhor ver com os próprios olhos do que com olhos de outros.[3]

Em outro lugar ele escreveu: “Já há alguns anos, eu tenho lido a Bíblia inteira duas vezes no ano. Se você imagina a Bíblia como uma poderosa árvore, e cada palavrinha um pequeno galho, eu sacudi cada um desses galhos porque queria saber o que era e o que significava”.[4] Essa leitura implacável da Bíblia foi uma das principais ocupações de sua vida.

Lutero sabia que os pregadores seriam tentados a evitar a Escritura procurando os comentários, mas asseverou que a Escritura tem de ser a leitura principal. Acautelou: “A Bíblia estará enterrada sob uma massa de literatura a respeito da Bíblia, negligenciando o próprio texto”.[5] Lutero consultava muitos comentários, mas jamais negligenciou a leitura diligente da Escritura.

Lutero temia que até mesmo a leitura dos pais da igreja pudesse substituir a verdadeira leitura da Bíblia. “A leitura dos santos pais deverá ser só por curto tempo, para que por meio deles sejamos conduzidos às Sagradas Escrituras”.[6] O perigo, dizia ele, é que um homem gaste tanto tempo lendo os pais que “nunca chegue a ler as Escrituras”.[7] Lutero ainda afirmava: “Somos como homens que sempre estudam os sinaleiros e nunca viajam pela estrada. Os queridos pais desejavam que, por seus escritos, fôssemos conduzidos às Escrituras, mas nós os empregamos para nos afastar das Escrituras”.[8] Para Lutero, tinha de haver um influxo total das Escrituras antes que pudesse haver um transbordar da verdade bíblica na pregação.

Ele testemunhou a negligência da leitura bíblica pessoal da parte de muitos no ministério, e Lutero lamentou: “Alguns pastores e pregadores são preguiçosos e não servem para nada. Dependem de… livros para conseguir produzir um sermão. Não oram, não estudam, não leem, não examinam as Escrituras. Não são nada senão papagaios e gralhas que aprenderam a repetir sem entendimento”.[9] Desprezar a leitura pessoal do texto bíblico, Lutero cria, era ser subdesenvolvido no púlpito.

Considerava sua obrigação labutar diariamente na Bíblia. Quanto a isso Lutero declarou: “Somente a Escritura é nossa vinha em que todos devemos lutar e laborar”.[10] Os pregadores não devem nunca se desviar para outros campo, porém, manter-se imersos na Escritura. Ele disse: “O chamado é vigiar, estudar, estar atento para a leitura”.[11] Isso, ele sentia, era o primeiro dever do pregador.

Lutero via o poder da pregação como ligado diretamente ao compromisso do pregador com a Palavra de Deus: “O melhor pregador é aquele que melhor conhece a Bíblia; que a guarda não só na memória como também na mente; que entende seu verdadeiro significado, e o trata com efetividade”.[12] Noutras palavras, um conhecimento profundo do texto prepara o homem para se tornar grande força no púlpito, Disse ele: “Aquele que conhece bem o texto da Escritura é teólogo distinto”.[13] Essa saturação bíblica era característica de Lutero, e impactou profundamente os seus sermões.

- por Steve Lawson
Fonte: Editora Fiel

[1] T. Harwood Pattison, The History of Christian Preaching (Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1903), 135.
[2] Jaroslav Pelikan, Luther’s Works, Companion Volume: Luther the Expositor (St. Louis: Concordia, 1959), 49.
[3] Lutero, Luther’s Works, Vol 54, 361
[4] Ibid., 165.
[5]Ibid., 361
[6] Martinho Lutero, Works of Martin Luther: With Introductions and Notes, Vol 2 (Philadelphia: A. J. Holman Co., 1915), 151.
[7] Lutero, Luther’s Works, Vol 44, 205.
[8] Ibid.
[9] Martinho Lutero, D Martin Luthers Werke, Vol 53 (Weimar: Hermann Bohlaaus Nachfolger, 1883), 218, conforme citado em What Luther Says, 1110.
[10] Lutero, Luther’s Works, Vol 44, 205.
[11] LUTERO, D Martin Luthers Werke, Vol 53, as cited in Meuser, Luther the Preacher, 40–41.
[12] KERR, John, Lectures on the History of Preaching (New York: A.C. Armstrong & Son, 1889), 154–155.
[13] Martinho Lutero, D Martin Luthers Werke, Tischreden IV, 4567 (Weimar: H. Böhlau, 1912–1921), conforme citado em What Luther Says, 1355.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Escreve seus planos

                                                                 Reflexões Bíblicas


O choro

Reflexões Bíblicas 

Estudo Bíblico - a arma dos jovens


Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno. (1 Jo 2:14b)
Todos nós que aceitamos o Senhor Jesus como nosso senhor e salvador temos de lutar contra o maligno, diferentemente dos que estão no mundo que já se renderam a sua vontade e não se preocupam em lutar contra, outros se unem ao diabo e ao invés de lutarem contra ele lutam a favor dele.
Mas nós que aceitamos Jesus lutamos contra ele todos os dias, a cada momento temos que estar firmes com nossas armaduras prontos para pelejar contra as astutas ciladas do inimigo(Efésios 6 : 11).
Na passagem de (1 João 2:14b) vemos uma diferenciação entre os jovens e as outras pessoas nessa batalha. Vemos que os jovens têm duas armas especiais que quando bem usadas e usadas em conjunto fazem o jovem vencer o maligno são elas:

FORÇA

Diz a palavra de Deus: “Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes”. Mas, o que é essa força?
Essa força descrita na Bíblia não é apenas uma força natural, Isaías disse em uma de suas profecias messiânicas que o Senhor Jesus seria chamado de Deus Forte (Isaías 9:6), além de outros atributos. Como Jesus é a imagem do Deus invisível  (Colossenses 1 : 15), e nós fomos feitos a sua imagem e semelhança (Gênesis 1 : 26), somos também fortes.
Portanto a força que a Bíblia fala não tem relação apenas com o mundo físico, mas também com o mundo espiritual, somos fortes espiritualmente, pois estamos mais abertos a novas experiências, ainda jovens não fomos tão bombardeados com as coisas naturais, por isso que Jesus disse que o reino de Deus é das criancinhas (Marcos 10:14).
Ou seja, quanto mais jovens somos mais inocentes e temos mais força espiritual para lutarmos contra o maligno. Sendo assim quanto mais santos formos mais força teremos assim como nos manda a palavra de Deus (Filipenses 2:15), ela fala que devemos ser sem repreensão, para que nos tornemos diferentes dessa geração corrupta, por isso devemos buscar santidade cada dia mais  (Hebreus 12 : 14).

A PALAVRA DE DEUS

Como vimos anteriormente os jovens tem uma força espiritual maior que os adultos pois são mais inocentes.
Mas a palavra de Deus não diz que é necessária somente a santidade para vencermos a batalha contra o diabo é necessário também: a PALAVRA DE DEUS. A Bíblia fala: “...e a palavra de Deus está em vós...” (1 João 2:14) e “Retendo a palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão.” (Filipenses 2:16).
Devemos reter a palavra de Deus guardá-las em nosso coração para não pecarmos contra Deus (Salmos 119 : 11), o próprio Jesus quando tentado (Mateus 4:1-11) usou a palavra de Deus para se defender e atacar Satanás quando foi necessário. Por isso temos que aprender a ouvir a palavra de Deus e guardá-la em nossos corações para que possamos vencer o maligno.
Muitos jovens negligenciam a palavra de Deus sem conhecer a sua força, eles se prendem nos louvores a esquecem da Bíblia de prestar atenção na pregação, e como vimos isso é um erro pois a palavra de Deus é necessária para lutarmos contra o maligno. Os jovens que realmente vencem são os guardam as palavras de Deus nos eu coração, por isso se você quiser vencer você terá que buscar a santidade e buscar a palavra de Deus.
Faça isso busque a santidade e busque conhecer a palavra de Deus e não haverá limites para o que você poderá fazer (Filipenses 4 : 13), nem para o que Deus pode te dar (João 15:7).


João Calvino



Contexto Histórico
Aproximadamente um a dois séculos antes de acontecer a reforma protestante os precursores deste movimento haviam, com suas próprias vidas, semeado um pouco daquilo que seriam os ideais sócio-econômico-cultural-político-religiosos reformadores. Homens como John Huss e Wycliffe gozaram tanto de um sucesso como de um insucesso na implantação e sucessão de seus ideais.
Neste mesmo intento de reformar a igreja cristã um homem chamado Martinho Lutero dá início ao que conhe-cemos como reforma protestante. Passo a passo ele foi rompendo com a teologia, tradição e práxis da Igreja Católica Romana até que em 31 de outubro de1517 ele pregou nas portas da igreja de Wittenburg as suas 95 teses contra a venda de indulgências. Não só estas teses como também outras obras de Lutero foram traduzidas para diversas ou-tras línguas o que facilitou a propagação dos ideais reformadores e sua desarraigação da igreja católica.
A maioria dos monges, antes indiferente ao que ocorria fora dos conventos, deixou seus claustros para pregar as boas-novas do Novo Testamento. Nesse tempo, não poucos sacerdotes romanos tomaram-se luteranos, sendo o exem-plo deles seguido por muitos dos fiéis de suas paróquias. Também, não poucos bispos fizeram o mesmo. Muitos hu-manistas famosos dedicaram sua cultura propagando e defendendo a nova expressão do Cristianismo.
A Reforma, já fora dos limites da Alemanha, estava produzindo considerável alteração no modo de vida do povo em outras regiões da Europa. Deixou de ser um movimento de conotação simplesmente anti-papal, para tornar-se um dos maiores avivamentos religiosos da História da Igreja. Surgiram logo depois, muitos outros movimentos reformis-tas, paralelos, destacando-se precisamente na Suíça, França, Escócia e Inglaterra.
É neste contexto que nasce e cresce aquele que seria o teólogo mais influente ao protestantismo pós-Lutero.
Sua Vida
No dia 10 de julho de1509, em Noyon Picardia, norte da França, nasceu Jean Cauvin, filho de Gerard Cauvin e Je-anne le Franc de Cambrai. Nesta época Lutero já havia pregado suas primeiras conferências na Universidade de Wi-ttenberg. Calvino era aproximadamente 26 anos mais novo que Lutero, o que fazia dele pertencente à segunda gera-ção da reforma protestante.
Seu pai pertencia à classe média da sociedade de Noyon, e com o exercício do secretariado do bispo e procurador da biblioteca da Catedral procurou oferecer ao seu filho João os benefícios eclesiásticos com os quais iria custear seus estudos.
Aos três anos de idade João Calvino perde, para a morte, sua simples, calma, piedosa, bela e religiosa mãe.
Ele teve a sua infância em dias que a Igreja Romana e suas crendices tinham forte influência sobre o povo que se dispunha a crer em qualquer coisa absurda. A Igreja dizia possuir como relíquia, alguns fios de cabelo de João Batista, um dente do Senhor Jesus, um pedaço de maná do Antigo Testamento, algumas migalhas que sobraram da primeira multiplicação dos pães e alguns fragmentos da coroa de espinhos usada por Jesus.
Desde muito pequeno Calvino aprendeu as polidas maneiras da sociedade, isto em decorrência das suas relações muito próximas com a nobre e poderosa família dos Montmor.
Quando Calvino tinha apenas 12 anos de idade (1521) ele foi nomeado capelão da Catedral de Noyon, tornando-se assim membro do clero. Evidentemente ele não possuía todas as ordens sacerdotais mas o suficiente para lhe con-ferir os lucros do benefício eclesiástico.
Aos 14 anos de idade (agosto de 1523) João Calvino foi enviado ao Colégio Montaigri, em Paris, onde dedicou-se às artes liberais e mais tarde iria estudar teologia. Como estudante ele era excepcional e se avantajava em muito aos seus companheiros. Era um rapaz de baixa estatura, organismo fraco e delicado, feição pálida, olhar brilhante, muito inteligente e de firme caráter. Era tímido, irritável, muito austero, organizado, inflexível e intolerante. Muito disso sabemos graças à sua biografia escrita por seu sucessor, Teodoro de Beza. Em Paris aprendeu bem o latim e foi ins-truído na filosofia e na dialética completando seu curso de pré-graduação no começo de 1528.
Aos 18 anos (1527) foi nomeado para outro cargo eclesiástico o de pároco (curato) de S. Martinho de Marteville, no entanto ele não era sacerdote. Posteriormente (1529) Calvino veio a abrir mão do seu primeiro cargo eclesiástico em favor de seu irmão mais novo e trocou Marteville por Pont-l'Evê. Em 1534 abdicou a este segundo cargo.
Dizem que Calvino era conhecido entre seus colegas como "caso acusativo" por estar sempre censurando-os e cri-ticando severamente as suas falhas.
Por causa de um desentendimento de seu pai Gerard em 1528 com autoridades eclesiásticas a respeito de ques-tões financeiras, Calvino foi transferido para a Universidade de Orleans e Burges, onde, de acordo com a vontade de seu pai, agora excomungado, estudaria advocacia. Em Bourges, sob a influência do alemão Melchior Wolmar, aluno de Lutero, passou a estudar grego e assim teve fácil acesso ao Novo Testamento Grego de Erasmo Roterdã. Lá também obteve fortes influências humanistas.
Com o falecimento do pai em 1531 e o término da faculdade jurisprudência, mesmo nunca ter sido de seu agra-do, Calvino passou a tomar suas próprias decisões e assim seguir seu desejo: esforçar-se no estudo das letras, tanto línguas (grego, hebraico e latim) como literatura. Ele assim o fez no Colégio Royal de França, uma instituição huma-nista fundada pelo rei Francisco I em 1530. Para lá fora a fim de estudar sob a direção dos mais eminentes humanis-tas da época.
Entre a conclusão do seu comentário sobre a obra "Sobre a Clemência" de Sêneca (1532) e o fim do ano seguin-te, Calvino se converteu, adotando as idéias da Reforma e dispensando imediatamente o dinheiro das rendas eclesiás-ticas. No prefácio do seu comentário sobre o livro de Salmos ele escreve um pouco sobre sua conversão: "Visto que eu estava mais teimosamente preso às superstições do papado do que me era possível desvencilhar-me de tão pro-fundo lamaçal. Deus subjugou o meu coração da obstinação de minha idade para a docilidade de uma súbita conversão. Forçado a abandonar a França, em 1534, por colaborar com Nicholas Cop, reitor da Universidade de Paris, na elaboração de um documento, recheado de Humanismo e de Reforma, seguiu para Basiléia.
Em Basiléia (1536), uma cidade protestante, Calvino termina a sua maior obra teológica a "Institutio Religionis Christianae", obra esta que teve de ser terminada às pressas em decorrência da necessidade de se defender os protes-tantes das acusações perseguições executadas pelo rei Francisco I. Na dedicatória, Calvino pede que o rei faça uma distinção entre os "piedosos", os verdadeiros adeptos do Evangelho, e os entusiastas anarquistas pois eram estes que provocavam a desordem no Estado.
A boa aceitação das Institutas motivou Calvino a continuar seus estudos teológicos e a transferir-se para Estras-burgo. A caminho de Estrasburgo, uma cidade protestante, ele parou para pernoitar em Genebra. Nesta cidade foi abordado por Guilherme Farel, que defendia e propagava os ideais reformatórios em Genebra. Farel o abordou por não se contentar que Calvino estaria lá só de passagem e a igreja com todos os seus problemas e necessidades a pere-cer.
Depois de muita argumentação e contra-argumentação entre Farel e Calvino, Farel sem conseguir convencer o jovem teólogo a ficar em Genebra apelou ao Senhor de ambos e insurgiu contra o teólogo com voz estridente: "Deus amaldiçoe teu descanso e a tranqüilidade que buscas para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar socorro e ajuda."
Diante do enfático apelo de Farel cedeu e ficou em Genebra. Dias depois Calvino mesmo confessou: "Senti... como se Deus tivesse estendido a Sua mão do céu em minha direção para me prender... Fiquei tão aterrorizado que inter-rompi a viagem que havia encetado... Guilherme Farel me reteve em Genebra."
Inicialmente seu trabalho em Genebra foi um fracasso pois as pessoas não estavam dispostas a aceitarem as re-formas calvinistas, o que acabou resultando na sua expulsão de Genebra em1538. Levou 3 anos para o povo reconhe-cer as capacidades e intentos de Calvino, e em 1541 o convidam a voltar a Genebra, apelo que ele atendeu gratamen-te porém não sem relutância.
Em Estrasburgo, agosto de1540, João Calvino casou-se com Idelette de Bure, viúva de um pastor anabatista e mãe de duas crianças, com quem foi feliz até que a morte a levou em 1549. Tiveram um único filho, o qual morreu ainda muito novo.
O período de 1548 a 1555 foi marcado na vida de Calvino pelas extensas e excessivas lutas contra hereges e as lideranças da cidade de Genebra, sendo que estas lutas tiveram o seu ápice na condenação e execução, por Calvino e os seus, de Miguel Servetto em 1553.
Em 1559 Calvino viu cumprir-se um dos seus sonhos, ao ser fundada a Universidade de Genebra com um sistema de educação baseado em três níveis, o qual seria um modelo educacional para a posteridade imediata.
Sua Morte
Calvino, que nunca fora robusto, morreu moço. Pregou seu último sermão no dia 6 de fevereiro de 1564 e fale-ceu a 27 de maio do mesmo ano, contando apenas cinqüenta e cinco anos incompletos. A maravilha, porém, está em que, não obstante as fraquezas físicas, as lutas incessantes, e o trabalho excessivo, ele pudesse ter resistido tanto tempo. Somente a vida moderada e a força de vontade extraordinária podiam levá-lo tão longe. Ciente de que a morte se aproximava, chamou para junto de si os magistrados e os pastores da cidade e lhes fez prometer que sobre sua se-pultura não seria erguido qualquer monumento, tanto que hoje se desconhece o local do seu túmulo. Foi sepultado, segundo seu desejo, em lugar desconhecido, sem testemunhas e sem cerimônia fúnebre. O procedimento correspon-deu à sua teologia: honra e glória somente a Deus.
Seu Exílio, Fuga, perseguições e Intolerâncias
A primeira fuga a que Calvino teve que se submeter foi na ocasião em que ele ajudou na preparação do discurso de início do ano letivo na Universidade de Paris, feito então pelo reitor Nicholas Cop no dia 1/11/1533. Tratava-se de um discurso recheado de idéias humanistas e protestantes o que fez com que a grande maioria dessa universidade os perseguisse. Calvino fugiu para a cidade de Basiléia, uma cidade protestante.
Em 1538 foi expulso pelos protestantes da igreja de Genebra pois ali Calvino havia instituído uma rigorosa e ti-rana disciplina eclesiástica. De Genebra ele retirou-se para Estrasburgo onde ficou até 1541. Após algum tempo ele retornou à igreja sob o convite daqueles que um dia o expulsaram. Seu fiel amigo, Guilherme Farel, preferiu seguir com ele até o exílio. Estes 3 anos, pelo que se sabe, foram os mais felizes e tranqüilos de sua vida embora sejam co-nhecidos como exílio.
Com a vitória nas eleições de 1553 por parte dos oponentes de Calvino e a situação política de Calvino era precá-ria estourou o famoso caso de Miguel Servetto, médico e teólogo espanhol que negava a doutrina da Trindade, sendo que Servetto acabara de escapar da inquisição católica na França. Calvino o declarou herege por meio de 38 acusações e todos concordaram na sua morte, inclusive seus opositores. Quanto à morte de Servetto não há uma concordância final entre os historiadores pois alguns dizem que Calvino o condenou à decapitação e seus discípulos o persuadiram a mudar a sentença para que Servetto fosse queimado vivo na fogueira. A outra versão é o contrário, ou seja, Serve-tto foi condenado por todos a morrer queimado mas Calvino ordenou para que fosse decapitado por se tratar de uma morte menos dolorosa.
Ocorreram outros incidentes de intolerância o que convém dizer-nos é que desde muito cedo ele apresentou-se como intolerante e inflexível. Ex.: "Caso Acusativo".
Sua Teologia
Simplificadamente a teologia de Calvino se resume na sigla TELIP, ou seja:
Totalidade da depravação humana, entendendo que o homem herdou a culpa do pecado de Adão e nada pode fa-zer por sua salvação, uma vez que a sua vontade está totalmente corrompida. Calvino ensinava que a salvação é um assunto de... Eleição incondicional e independe do mérito humano ou da presciência de Deus: a eleição é fundamenta-da na soberania da vontade de Deus, havendo uma predestinação dupla, para a salvação e para a perdição. Calvino concebia ainda a... Limitação da redenção, ao propor que a obra de Cristo na cruz é restringida aos eleitos para a sal-vação. A doutrina da Irresistibilidade da graça é necessária, então: o eleito é salvo independentemente de sua vontade, pois o Espírito Santo o dirige irresistivelmente para Cristo. A... Perseverança (ou Preservação) dos santos è o ponto final do seu sistema, os eleitos, irresistivelmente salvos pela obra do Espírito santo, jamais se perderão.
Coordena sua teologia a idéia da soberania absoluta de Deus. Calvino tinha uma concepção majestosa de Deus, a exemplo de alguns dos profetas do Antigo Testamento. João Calvino foi um profundo conhecedor e estudioso das Es-crituras, toda a sua teologia partiu das Escrituras buscando ele a partir daí apoiar nos escritos dos pais da igreja dos quais Agostinho é o seu preferido. Sua teologia é essencialmente bíblico-indutível.
Esta marca sistematizadora da teologia reformada presente em Calvino é uma das diferenças que ele tem para com Martinho Lutero que foi o grande pregador da reforma.
Suas Contribuições
? Elaboração de um modelo político para a igreja (sistema presbiteriano) e para o Estado, que pode ser conside-rado pioneiro na prática da democracia representativa;
? As "Institutas da Religião Cristã" - A mais importante e influente obra da teologia sistemática da reforma pro-testante. Possui ênfase na importância da doutrina a na centralidade de Deus na teologia cristã;
? Seus trabalhos e esforços influenciaram: a Reforma, os Presbiterianos e os Puritanos;
? Enfatizava a vocação como chamada divina e dava importância à moderação na alimentação (frugalidade) e ao trabalho, estimulando assim o capitalismo;
? Incentivou grandemente a educação, fundando em 1559 a Universidade de Genebra com um sistema de educa-ção baseado em três níveis. Posteriormente os Estados Unidos seriam influenciados por este novo sistema;
? Sob a liderança de Calvino, a cidade de Genebra transformou-se em um modelo para a vida cristã e fé reforma-da tornando-se também um local de refúgio para todos quanto eram perseguidos por causa da fé protestante.
Principais Obras
? "Comentário ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência" - (abril de 1532) esta obra marcou o ápice da influên-cia humanista em sua vida, sendo esta a sua primeira obra independente;
? "Psychopannychia" - (1537);
? "Institutio Religionis Christianae" (terminada em 23/08/1535 e impressa em março de 1536). Era uma edição em latim e resumida de 516 páginas com apenas 6 capítulos: 1º Da Lei (explicação do decálogo), 2º Da Fé (ex-plicação do símbolo dos apóstolos), 3º Da Oração (explicação da oração dominical), 4º Dos Sacramentos (o ba-tismo e Santa Ceia), 5º Dos Falsos Sacramentos (demonstração da não razão de ser dos 5 sacramentos acres-centados pela Igreja Romana), 6º Da Liberdade Cristã (poder eclesiástico, administração civil etc.). Em 1541 o próprio Calvino a traduziu para o francês sendo as últimas edições em 1559 (latim) e1560 (francês). Esta últi-ma edição transformou-se em quatro livros com um total de 80 capítulos. Sem dúvida alguma, esta foi a obra-prima de teologia sistemática protestante em todo século XVI;
? Cartas suas (+ou- 4000) enviadas a diversos indivíduos bem como outros escritos integram os 57 volumes do Corpus Reformatorum;
? Existem aproximadamente 2000 de seus sermões;
? O Comentário de Calvino sobre 23 livros do Antigo Testamento;
? O Comentário de Calvino sobre todos os livros do Novo Testamento, exceto Apocalipse;
? "Ordenanças Eclesiásticas" (1541) - princípios organizacionais da igreja;
? "Réplica a Sadoleto" - uma clássia defesa do protestantismo diante do cardeal Sadoleto;
Bibliografia Consultada
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos. : São Paulo: Vida Nova, 1995
OLIVEIRA, Raimundo Ferreira de. História da igreja. Campinas: EETAD, 1996
GONZALEZ, Justo L. A Era dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1997
CHAMPLIN, R. N.. BENTES, J. M.. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. Vol. 1. São Paulo: Candeia, 1991
ROMAG, Frei Dagoberto. Compêndio de história da igreja. Rio de Janeiro: Vozes, 1952
MUIRHEAD, H. H. O cristianismo através dos séculos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1952
SMITH, William S. Da reforma até hoje. Patrocínio: William S. Smith, 1974
LESSA, Vicente Temudo. Calvino 1509-1564: sua vida e sua obra. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, ????
FRANÇA, Paulo. Apostila de história. da igreja 2. Atibaia: SBPV, 1999 (material não-publicado)
DREHER, Martin N. Coleção história da igreja. Vol. 3. São Leopoldo: Sinodal, 1996
WALKER, W. História da igreja cristã. Vol. 2. São Paulo: ASTE, 1967

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Tiago - O Apóstolo Fervoroso

Dos três discípulos do círculo mais íntimo de Jesus, sabemos menos coisas sobre Tiago. Ele nunca aparece sozinho nas narrações sobre o evangelho, mas sempre junto com João, seu irmão mais jovem e conhecido. A única vez em que é mencionado isoladamente no livro de Atos, em que é registrado o seu martírio.
At 12.1-2
Entre Tiago e João, Tiago era o mais velho, pois seu nome sempre é colocado primeiro quando aparecem os dois.  Tiago e João eram irmãos e filhos de zebedeu. Isso significa que Zebedeu era um homem importante.
Mt 20.20; 26, 37; 27.56; Mc 10.35, Lc 5.10, Jo 21.2
O negócio de Zebedeu era grande o suficiente para empregar vários servos.
Mc 1.20
Além disso, a família toda de Zebedeu tinha posição social suficiente a ponto do apóstolo João ser conhecido do sumo sacerdote. João conseguiu que Pedro entrasse no pátio do sumo sacerdote na noite em que Jesus foi preso.
Jo 18.15-16
Como o filho mais velho de uma família bem sucedida, Tiago achava que deveria ter sido o principal dos apóstolos. Por isso, discutiu sobre qual deveria ser o maior dos apóstolos.
Lc 22.24
Mas Tiago nunca foi o  principal dos apóstolos. Mas ele era alguém importante. Em duas das listas dos apóstolos seu nome vem logo depois de Pedro. Ele, Pedro e João foram os únicos que Jesus permitiu acompanha-lo quando ressuscitou a filha de Jairo.
Mc 5.37
Também presenciou a transfiguração de Cristo.
Mt 17.1
Estava entre os 4 que fizeram perguntas particulares a Jesus no monte das oliveiras.
Era chamado por Jesus para orações em particular.
Mc 14.33
Tiago era um apóstolo intenso de fervor e entusiasmo. Jesus deu a ele e a João um apelido: Boanerges – filhos do Trovão.
Mc 3.17
Tiago desejava ter poder de pedir fogo dos céus para destruir vilas inteiras cheias de pessoas. Era franco, intenso e impaciente com aqueles que praticavam o mal.  No entanto, por vezes o zelo fica aquém da justiça. O zelo sem entendimento pode ser condenatório. O zelo sem sabedoria pode ser perigoso. O zelo misturado à insensibilidade é cruel. Sempre que se transforma em cólera desenfreada pode ser mortal.  Vamos ver esse zelo de Tiago.

1 – FOGO DO CÉU.

Lc 9.51-56
Jesus estava se preparando para passar em Samaria. Dirigia-se a Jerusalém para última páscoa, a qual ele sabia que iria culminar com sua morte, sepultamento e ressurreição. É importante o fato de Jesus ter escolhido passar por Samaria. Mesmo que o caminho mais curto da Galiléia para Jerusalém fosse exatamente por lá, a maioria dos judeus que viajava entre esses dois lugares fazia questão de tomar uma direção que os obrigava a percorrer vários quilómetros fora do caminho, passando pelo deserto de Pereia – fazendo-os cruzar o rio Jordão duas vezes – só para evitar passar por Samaria.
Os samaritanos eram uma raça de mestiços dos israelitas do reino do Norte. Quando Israel foi conquistada pelos assírios, as pessoas mais preemintes e influentes das suas tribos foram levadas para o cativeiro e a terra foi reassentada com pagãos e estrangeiros leais ao rei da Assíria. Os Israelitas mais pobres que permaneceram na terra se casaram com esses pagãos.
Os pagãos mestiços não prosperaram na terra, pois não temiam o Senhor. Assim o rei da Assíria enviou de volta um dos sacerdotes que havia levado o cativeiro a fim de que ele ensinasse o povo a temer o Senhor. O resultado foi uma religião que misturava elementos da verdade e do paganismo. Fundaram o próprio sacerdócio, construíram seu próprio templo e criaram seu próprio sistema de sacrifícios. Misturaram a autoridade das Escrituras com a tradição humana.
O primeiro templo dos Samaritanos havia sido construído sobre o monte Gerizim, em Samaria. Esse templo havia sido edificado na época de Alexandre, o Grande, mas havia sido destruído cerca de cento e vinte cinco anos antes do nascimento de Cristo. No entanto, Gerizim ainda era considerado pelos samaritanos como um lugar sagrado e estavam convencidos de que aquele era o único local que Deus poderia ser adorado (Jo 4.20). Por isso, a região era considerada impura.
Jesus escolheu ir a Jerusalém passando por Samaria. Ao longo da viagem, ele e seus seguidores precisariam de lugares onde pudessem comer e passar a noite. Tendo em vista que o grupo que viajava com Jesus era relativamente grande, ele enviou mensageiros adiante deles para providenciar acomodações.
Os mensageiros de Jesus não conseguiram acomodações. Os samaritanos não apenas odiavam os judeus, como também odiavam o culto que se realizava em Jerusalém.  Jesus representava tudo o que era judeu e que eles mais odiavam, por isso, rejeitaram o seu pedido. O problema não era de espaço, mas falta de hospitalidade.
Jesus sempre foi bondoso com os Samaritano.
Lc 17.16; Jo 4.7-29, Lc 10.30-37, At 1.8
Mas ainda assim, eles trataram a Jesus com desprezo. Qual a reação de Tiago e João?
Lc 9.54
Por que a reação foi errada?
1 – A motivação era errada. Eles estavam sendo arrogantes.
2 – Jesus não estava em uma missão de julgamento, mas sim de resgate.
O exemplo de Jesus ensinou a Tiago que a bondade amorosa e a misericórdia são virtudes a serem cultivadas tanto quanto a justa indignação e o zelo fervoroso. O que eles fizeram? Foram para outra aldeia (Lc 9.56).

TRONOS NO REINO

Mt 20.20-24
Nesta passagem temos mais alguns detalhes a respeito do caráter de Tiago. Nesta passagem descobrimos que Tiago não era apenas fervoroso. Intenso, zeloso e insensível, era também ambicioso e auto confiante.
Eles já faziam parte do círculo mais intimo de Jesus, por isso, achavam que mereciam uma posição de destaque no reino. Jesus não lhes fez promessa de cargos de destaque, mas lhes garantiu que iriam beber do seu cálice, mas os principais tronos não lhe competiam.
A ambição dos dois acabou gerando conflitos entre os apóstolos, pois os demais ficaram ofendidos, o debate perdurou até a mesa da santa ceia. (Lc 22.24)
Tiago desejava uma coroa de glória; Jesus lhe deu um cálice de sofrimento. Desejava poder; Jesus lhe deu serviço. Desejava um lugar de preeminência; Jesus lhe deu túmulo de um mártir. Desejava exercer domínio. Jesus lhe deu espada. Catorze anos depois disto, Tiago se tornou o primeiro dos doze a morrer por causa da sua fé.

O FIM DE TIAGO.

A morte de Tiago é relatada em At 12.1-3.
Essa é a única passagem das escrituras em que Tiago aparece sozinho. Herodes ordenou sua morte e o instrumento de execução foi uma espada (decapitado).  Não se trata de Herodes Antipas, aquele que matou João Batista e levou Jesus a ser julgado, mas seu sobrinho e sucessor, Herodes Agripa I. Não sabemos que motivos Herodes tinha para ser tão hostil para com a igreja, para agradar líderes judeus começa a perseguir os cristãos.
Evidentemente Tiago ainda era um homem dedicado, sua intensidade, agora sob o controle do Espírito Santo, tinha sido instrumento para propagação da verdade. Isso demonstra que Tiago estava onde Jesus o havia treinado para estar, na linha de frente do crescimento do evangelho.
A história relata que o testemunho de Tiago deu frutos até no momento de sua execução.
Clemente de Alexandria afirma que Tiago deu tão grande testemunho no tribunal, que aquele que o levou se converteu durante o julgamento, professou sua fé em Cristo  e os dois foram levados juntos para a execução. No caminho ele implorou que Tiago o perdoasse, depois de um instante ele disse: a paz seja contigo e o beijou. Tiago havia aprendido a se mais parecido com André, levando as pessoas a Cristo em vez de tentar julgá-las.
Tiago era dinâmico, forte e ambicioso. Mas no fim de sua vida se torna mais sensível, ele aprendeu a controlar a ira, refrear a língua, redirecionar o seu zelo, eliminar a sede de vingança e perder a sua ambição egoísta.


Vida e Obra de Tertuliano de Cartago

igura contraditória e polêmica - mas de capital importância no contexto da Igreja primitiva - pouco se sabe dos dados biográficos de Tertuliano, em especial as datas de nascimento e morte. Sabe-se apenas que, como boa parte dos Pais da Igreja, Tertuliano era africano, nascido em Cartago (estima-se que por volta do ano 155 d.C.), e segundo Jerônimo relata, era filho de um centurião, o mais alto grau que um não romano podia atingir na hierarquia político-militar romana. Os cartagineses, desde os tempos de Aníbal e das Guerras Púnicas, 3 séculos antes de Cristo, nutriam uma especial aversão a Roma, e o cristianismo, nos seus primórdios, foi um fator aglutinador também do sentimento anti-romano. É nesse contexto que nasceu e viveu Tertuliano. Outra certeza que se tem a respeito dele é que suas obras foram escritas entre os últimos anos do século II e as duas primeiras décadas do século III.
O evangelho chegou à África provavelmente logo após o Pentecostes, já que, entre os ouvintes de Pedro naquele dia havia alguns judeus que habitavam “no Egito e em partes da Líbia” (Atos 2:10), e escavações na cidade de Hadrumeto (hoje na Tunísia) descobriram um cemitério judaico em que havia túmulos cristãos datados dos anos 50 e 60 d.C. O historiador Paul Johnson descreve a Igreja de Cartago como “entusiasmada, imensamente corajosa, completamente desafiadora perante as autoridades seculares, muito perseguida, intransigente, intolerante, virulenta e, de fato, violenta em suas controvérsias. Há evidências de que Cartago e outras áreas do litoral africano tenham sido evangelizadas por essênios e zelotes cristãos, demonstrando, desde o princípio, uma tradição de militância e resistência à autoridade e à perseguição. Tertuliano corporificava essa tradição.” (“História do Cristianismo”, Ed. Imago, 2001, pág. 63). A igreja africana, apesar das grandes contribuições que trouxe à Igreja primitiva, era conhecida pela sua combatividade prática e por seu silêncio literário, já que pouco se escrevia a seu respeito, talvez em função da forte perseguição das autoridades romanas. O primeiro documento que se conhece da Igreja africana são as Atas dos mártires de Scilli – sete homens e cinco mulheres – que foram condenados pelo procônsul de Cartago a “morrer pela espada” em 17 de julho de 180. Os mártires de Scilli (um povoado pequeno e nunca mais identificado) conheciam e usavam uma tradução latina das cartas de Paulo, que levavam consigo numa “capsa” (caixa), e as Atas de seu martírio são referidas por Tertuliano em sua obra “Ad Scapulam 3” (vide trecho em destaque abaixo), o que comprova a forte influência que recebeu da primitiva Igreja africana. O fato dos mártires se valerem da versão latina das cartas paulinas revela outra faceta da Igreja africana: embora, muito provavelmente, tenha sido formada a partir das Igrejas orientais, foi nos laços com Roma que ela se solidificou, abandonando, pouco a pouco, suas referências helênicas.

UM TRECHO DE “OS MÁRTIRES DE SCILLI”

Saturnino leu a sentença na tabula: “Speratus, Nartzalus, Cittinus, Donata, Vestia, Secunda e todos os outros confessaram que vivem segundo o rito cristão. Visto que lhes foi oferecido o retorno à religião romana, e eles o recusaram com obstinação, nós os condenamos a morrer pela espada”.
Speratus: “Nós damos graças a Deus”.
Sabe-se que Tertuliano recebeu sólida formação intelectual, sobretudo em direito e retórica, e, muito provavelmente, foi em Roma que viveu boa parte de seus estudos e primeiros passos na vida profissional, ainda jovem. Tertuliano teve uma juventude tempestuosa, pelo que se depreende de seus escritos. Chegou a se casar e supõe-se, com boa dose de certeza, que foi o exemplo dos mártires, não só os de Scilli, mas os de outras tantas perseguições perpetradas pelos romanos, que foi decisivo na conversão de Tertuliano, aos 40 anos de idade, que imediatamente integrou-se à já sólida Igreja africana, levando a ela o seu fervor de neófito, a sua genialidade e a instabilidade do seu temperamento, que não raro o fazia cometer excessos.
O historiador Paul Johnson chama Tertuliano de “um mestre da prosa, a prosa do retórico e do polemista. Estava em casa tanto no latim quanto no grego, mas costumava fazer uso do primeiro – o primeiro teólogo cristão a fazê-lo. Sua influência, de fato, foi imensa, precisamente por ter criado uma latinidade eclesiástica, dotou-os de sentenças inesquecíveis e influentes: ‘o sangue dos mártires é a semente da igreja’; ‘a unidade dos hereges é o cisma’, ‘creio porque é absurdo’ (“História do Cristianismo”, Ed. Imago, 2001, pág. 63). Fortemente anti-gnóstico, foi Marcião o seu primeiro adversário nesta seara, a quem deplorava suas tentativas de conciliar a doutrina cristã com a filosofia grega: “o que tem Atenas a ver com Jerusalém? Que relação há entre a Academia e a Igreja? O que os hereges têm com os cristãos? Nossas instruções vêm do pórtico de Salomão, que ensinou, ele mesmo, que o Senhor deve ser procurado na simplicidade de coração. Fora com todas as tentativas de criar um cristianismo estóico, platônico e dialético!” (citado por Paul Johnson, ob. cit.). Contra Marcião, Tertuliano revela também o seu estilo irônico, ou, porque não dizer, sarcástico: “Quem sois vós? Desde quando existis? Quem vos deu o direito, ó Marcião, de serdes lenhador no meu bosque? Essa terra é minha, tenho os títulos autênticos, recebidos dos proprietários, a quem essa terra pertenceu: sou herdeiro dos apóstolos” (citado por Adalbert – G. Hamman em “Os Padres da Igreja”, Ed. Paulus, 1995, pág. 72).

O Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs (Ed. Paulus e Ed. Vozes, 2002, págs. 1348/9) traz uma lista de suas principais obras, dividindo-as em três categorias - os escritos apologéticos, os doutrinais e os polêmicos - mas estabelecendo uma ordem cronológica:
“A 197 remontam as duas obras apologéticas mais conhecidas, o “Ad nationes” em 2 livros e o “Apologeticum”, dirigidas contra as acusações dos pagãos à nova religião; nelas a defesa e a ilustração dos costumes e das doutrinas cristãs se alternam com o ataque à conduta e às crenças dos gentios. Incerta é a colocação do “Ad martyras”, breve, mas intensa exortação aos co-irmãos para que afrontem corajosamente a perseguição. Esta está posta no início de 197 ou no curso deste mesmo ano ou em 200-203: nesse caso, os destinatários seriam os mártires conhecidos através de um outro documento antigo, a “Passio Perpetuae et Felicitatis”, um texto atribuído às vezes, pelo redator, ao próprio Tertuliano... não menos problemática a data atribuída ao “Adversus Iudaeos”, que se apresenta como o complemento de uma disputa não terminada entre um cristão e um prosélito judaico e que expõe os pontos principais da controvérsia judaico-cristã. A obra, cuja autenticidade foi longamente discutida, remontaria a 200 dC ou, segundo outros, a antes de 197. Pouco antes de 200 parece ter sido composto o “De testimonio animae, escrito apologético em que se recorre ao testemunho da alma para demonstrar a existência de Deus e outras verdades afirmadas pela doutrina cristã. Entre 200 apr. E 206, coloca-se uma importante série de tratados morais, exatamente: o “De spetaculis” (condenação dos jogos do circo, do estádio e do anfiteatro e proibição para os cristãos de neles participar), o “De oratione (sobre a oração e, especialmente, sobre o Pai-nosso), o “De patientia” (sobre a importância da “patientia” cristã, da qual Jesus deu o exemplo), o “De paenitentia” (sobre a primeira “penitência” necessária para se receber o batismo, e sobre a segunda, depois do sacramento da iniciação, que precede a reconciliação eclesiástica), o “De cultu feminarum” (sobre as vestes e os ornamentos das mulheres e a necessidade da modéstia), em 2 livros, o “Ad uxorem” (espécie de testamento espiritual em que se recomenda à esposa não passar para segundas núpcias), em 2 livros. Ao mesmo período pertencem três outras obras importantes: o “De baptismo”, contra a seita dos cainitas (sobre o batismo, sua necessidade, seus efeitos, invalidade do batismo administrado pelos hereges), o “De praescriptione haereticorum” (sobre o direito de possuir e, por conseguinte, de interpretar as Sagradas Escrituras, reservado não aos hereges, mas somente à Igreja, que é sua herdeira por via de transmissão legítima, tendo ela recebido as Escrituras de Cristo através dos apóstolos; sobre os motivos pelos quais as heresias estão no erro. O termo “praescriptio” de nosso autor foi entendido em pelo menos dois sentidos: com valor propriamente jurídico e com valor retórico e dialético), e, enfim, o “Adversus Hermogenem” (uma defesa da doutrina cristã da criação contra aqueles, entre os gnósticos, que consideravam a matéria como eterna).
Nos tratados compostos a começar de 207, nota-se uma influência sempre mais nítida do montanismo, o movimento religioso frígio, nascido na segunda metade do séc. II, ao qual Tertuliano está para aderir. De 207 a 212 sucedem-se vários escritos de cunho doutrinal e antignóstico: os quatro primeiros livros do “Adversus Marcionem”; trata-se da terceira edição de uma obra já elaborada anteriormente (contra Marcião e contra sua tentativa de separar o Deus do AT daquele do NT), o “Adversus Valentinianos” (exposição e refutação da doutrina dos gnósticos valentinianos), o “De anima” (em torno da natureza, da origem, do desenvolvimento e do destino da alma, que é ao mesmo tempo refutação de doutrinas heréticas), o “De carne Christi” (sobre a Encarnação do Senhor), o “De resurrectione mortuorum” (sobre a segunda vinda de Cristo, a salvação do elemento corporal, destinado a reconjugar-se com a alma, a exigência do Juízo e a necessidade da ressurreição), o V livro do “Adversus Marcionem”. Nesta grande empresa doutrinal, Tertuliano parece querer expor os pontos essenciais da ‘regula fidei’ numa moldura que, de propósito, tem presente as dificuldades e as objeções dos heréticos, e, mais em geral, a mentalidade e a cultura de seu tempo. Outras obras, compostas neste período de sua atividade literária, a mais intensa e fecunda, têm caráter moral e prático, e de modo claro revelam a tendência montanista do escritor: como acontece com o “De exhortatione castitatis” (ainda sobre as segundas núpcias, e com atitude mais rígida), com o “De virginibus velandis” (sobre a necessidade de que as virgens tragam o véu não apenas na igreja, mas em todo lugar público), com o “De corona” (diz respeito à incompatibilidade entre cristianismo e serviço militar), com o “Scorpiace” ou remédio contra a mordida do escorpião, quer dizer, contra a heresia gnóstica, em que se exalta o valor do martírio, negado pelos hereges. O “Ad Scapulam” é como uma carta aberta, de natureza apologética, endereçada ao procônsul da África Scapula que, por volta de 211, havia começado a perseguir os cristãos. Sobre o “De idolatria” (contra toda prática idolátrica e contra toda atividade e profissão que esteja em contato com ela), os pareceres sobre sua data estão divididos: se muitos historiadores consideram ter sido composto pouco antes de 212, outros propõe 197 ou os anos imediatamente posteriores (é o caso também de “De pallio”, uma resposta polêmica e amarga do escritor, dirigida a todos aqueles seus concidadãos que dele zombavam por haver deixado a toga romana para vestir a capa dos filósofos: em sua brevidade e obscuridade, foi classificado ora como o primeiro, ora como o último dos tratados de Tertuliano, ou foi colocado em período intermédio).
No terceiro e último período vemos o escritor africano já militando, contra a Grande Igreja, no partido dos montanistas. Interrogou-se acerca do caráter do montanismo africano comparado com aquele da Frigia; e se alguns críticos supuseram diferenças, outros as negaram, identificando o primeiro com o chamado movimento tertulianista (cf. D. Powell, ‘Tertullianists and Cataphrygians’, p. 33s). A partir de 212-213, enumeram-se o “De fuga in persecutione” (sobre a inadmissibilidade de fuga durante a perseguição), o “Adversus Praxeam” (contra o patripassiano Práxeas expõe-se a doutrina sobre a Trindade), o “De monogamia” (ainda contra as segundas núpcias, com textos mais radicais e tons mais duros), o “De ieiunio adversus Psychicos” (defesa da prática montanista sobre o jejum e ataque aos ‘psychici’, isto é, aos católicos, acusados de serem laxistas) e o “De pudicitia”, onde se nega à Igreja o direito de perdoar os pecados, reservando-o aos “homens espirituais”, quer dizer, aos apóstolos e aos profetas; afirma-se que alguns pecados gravíssimos (idolatria, fornicação, homicídio) não têm perdão de ninguém e se tem em mira um bispo que, a respeito do último ponto, expressou opinião oposta. A parábola religiosa de Tertuliano chegou assim a seu termo: a polêmica posta em ato por ele está em seu cume, tanto que várias idéias que se lêem nas últimas obras estão em contradição com outras, de obras precedentes.
Jerônimo (cf. De vir. Ill. 53) assinala um motivo de difícil verificação que teria levado o escritor africano para a órbita do montanismo: a invidia e as contumeliae que o clero de Roma teria manifestado contra ele num conflito de que ignoramos todas as minúcias e que, se realmente existiu, se pode supor ter-se relacionado justamente com questões disciplinares; nem se pode, a este respeito, esquecer do rancor que Jerônimo tinha para com o clero de Roma. Com probabilidade, circunstâncias exteriores e afinidades interiores o induzem a aderir ao movimento montanista, permitindo-lhe levar às extremas consequências um ideal de vida rígido e sem meias medidas, para o qual sempre havia sentido uma propensão; solução esta favorecida certamente pela concepção que Tertuliano tem da moral: seu espírito ascético e rigorista era fustigado pelas noções de justiça, retribuição, temor, também esperança, mas não parece inspirado suficientemente pelo amor. Neste sentido, o montanismo havia apenas acelerado um processo iniciado bem antes, brotado da profunda esperança pessoal do homem.”
Apesar de suas contradições, as obras de Tertuliano são decisivas para a formação e consolidação da Igreja primitiva. Primeiramente, ele valeu-se de seus estudos jurídicos para enriquecer o vocabulário teológico com termos, por assim dizer, importados do Direito, como “sacramentum”, que originalmente significava a entrega de uma soma para um processo e, depois, o juramento militar do recruta. Tertuliano cria um neologismo para essa palavra, aplicando-a ao engajamento batismal a serviço de Cristo. Por “persona” ele traduz o grego “hypostasis” (substância) ou “prosopon” (máscara, pessoa), em que a pessoa representa um papel sem perder sua individualidade, para usar a palavra para as pessoas da Trindade.
Seu livro “A Oração” (“De oratione”) foi o encanto de gerações, onde ele comentava o Pai-Nosso, desenvolvendo as condições e as características da oração cristã. Eis o preâmbulo (Adalbert – G. Hamman em “Os Padres da Igreja”, Ed. Paulus, 1995, pág. 73):

Apesar de suas contradições, as obras de Tertuliano são decisivas para a formação e consolidação da Igreja primitiva. Primeiramente, ele valeu-se de seus estudos jurídicos para enriquecer o vocabulário teológico com termos, por assim dizer, importados do Direito, como “sacramentum”, que originalmente significava a entrega de uma soma para um processo e, depois, o juramento militar do recruta. Tertuliano cria um neologismo para essa palavra, aplicando-a ao engajamento batismal a serviço de Cristo. Por “persona” ele traduz o grego “hypostasis” (substância) ou “prosopon” (máscara, pessoa), em que a pessoa representa um papel sem perder sua individualidade, para usar a palavra para as pessoas da Trindade.
Seu livro “A Oração” (“De oratione”) foi o encanto de gerações, onde ele comentava o Pai-Nosso, desenvolvendo as condições e as características da oração cristã. Eis o preâmbulo (Adalbert – G. Hamman em “Os Padres da Igreja”, Ed. Paulus, 1995, pág. 73):
Em sua obra “Apologeticum”, Tertuliano faz as vezes de um advogado ao defender o Cristianismo. Assim, por exemplo, referindo-se à carta na qual Trajano ordenou a Plínio que condenasse aqueles cristãos acusados diante dele, mas que não perseguisse aqueles que não eram acusados, Tertuliano escreve:
Ó miserável pronunciamento – de acordo com as necessidades do caso, uma incoerência! Proíbe de irem à procura deles como se fossem inocentes, e ordena que sejam punidos como se fossem culpados. É ao mesmo tempo misericordioso e cruel; ao mesmo tempo, ignora e pune. Por que fazes um jogo de palavras contigo mesmo, Ó Julgamento? Se condenas, porque também não inquires. Se não inquires, por que também não absolves?”
"Justo L. González, “Uma História do Pensamento Cristão”, Ed. Cultura Cristã, 2004, vol. I, pág. 168"

Prova de sua inteligência argumentativa é também a sua “Praescriptione haereticorum” (“Prescrição contra os hereges”), em que usa a palavra “prescrição” principalmente no seu sentido jurídico, valendo-se de um argumento definitivo: “se os hereges não têm direito de usar as Escrituras, torna-se impossível para eles discutir com aqueles que possuem e defendem a ortodoxia, a fim de desviá-los da verdadeira fé. A “praescriptio” é total: os hereges estão excluídos de qualquer discussão; somente as igrejas ortodoxas e apostólicas têm o direito de determinar o que é e o que não é doutrina cristã” (Justo L. González, “Uma História do Pensamento Cristão”, Ed. Cultura Cristã, 2004, vol. I, pág. 173).
Entretanto, é na sua obra “Adversus Praxean” (“Contra Práxeas”), que Tertuliano atingiu o cume de suas formulações teológicas, ao defender a doutrina da Trindade. Pouco se sabe sobre Práxeas, a não ser que ele parece ter vindo da Ásia Menor, onde conhecera tanto o monarquianismo como o montanismo, acabando por aceitar o primeiro e rejeitar o último. Chegando em Roma, Práxeas foi bem recebido, combatendo o montanismo e expandindo o monarquianismo, com ênfase no patripassianismo (o sofrimento e morte do Deus Pai), a ponto de Tertuliano atribuir-lhe essa infame dupla função: “fez um duplo serviço para o diabo em Roma: ele afugentou a profecia, e introduziu a heresia; ela afastou o Espírito e crucificou o Pai”.
Ainda valendo-se da terminologia jurídica que lhe era própria e familiar, Tertuliano desenvolveu a doutrina da Trindade, como Justo L. González expõe:

“De acordo com ele, Práxeas afirma que a distinção entre o Pai e o filho destrói a “monarquia” de Deus, mas não compreende que a unidade da monarquia não requer que ela seja sustentada por uma só pessoa. “Monarquia”, este termo tão acalentado por Práxeas e seus seguidores, significa simplesmente que um governo é único, e nada impede o monarca de ter um filho ou de administrar sua monarquia como lhe aprouver – o que Tertuliano chama de “economia” divina. Além do mais, se o pai assim quiser, o filho pode participar na monarquia sem com isso destruí-la. Portanto, a monarquia divina não é razão para se negar a distinção entre o Pai e o Filho, como alegado pelos “simples, na verdade, eu não quero chamá-los de insensatos e ignorantes”, que negam tal distinção.
Mas isto não é suficiente para refutar Práxeas, pois é necessário explicar como é possível que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam um só Deus e que eles, contudo, sejam diferentes. Aqui Tertuliano apela novamente para sua formação legal e introduz dois termos que a igreja continuaria usando por muitos séculos: “substância” e “pessoa”. O termo “substância” deve ser entendido aqui, não num sentido metafísico, e sim num sentido legal. Dentro deste contexto, “substância” é a propriedade e o direito que uma pessoa tem de fazer uso dessa propriedade. No caso da monarquia, a substância do Imperador é o Império, e é isto que torna possível para o Imperador partilhar sua substância com seu filho – como de fato era comum no Império Romano. “Pessoa”, por outro lado, deve ser entendida como “pessoa jurídica” e não no sentido comum. “Pessoa” é alguém que tem uma certa “substância”. É possível que várias pessoas participem de uma substância, ou que uma pessoa tenha mais de uma substância – e essa é a essência da doutrina de Tertuliano a respeito não apenas da Trindade, mas também a respeito da pessoa de Cristo.
Com base nesses conceitos de substância e pessoa, Tertuliano afirma a unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo sem negar sua distinção: os três compartilham uma única e indivisível substância, mas isto não os impedem de serem três pessoas diferentes:
Três, no entanto, não em condição, mas em grau; não em substância, mas em forma; não em poder, mas em aspecto; todavia de uma substância, e de uma condição, e de um poder, porque ele é um Deus, de quem três graus e formas e aspectos são contados, sob o nome de Pai, de Filho e de Espírito Santo.”
"Justo L. González, “Uma História do Pensamento Cristão”, Ed. Cultura Cristã, 2004, vol. I, pág. 174/5"

Como lembra Paul Tillich (“História do Pensamento Cristão”, Ed. Aste, 2000, pág. 61), “a palavra ‘trinitas’ aparece pela primeira vez nos escritos de Tertuliano. Embora Deus seja um só, ele nunca está só. Diz Irineu: “Estão sempre com ele a palavra e a sabedoria, o Filho e o Espírito, por meio dos quais tudo fez livre e espontaneamente”. Deus é sempre Deus vivo. Não está só. Não é uma identidade morta. Mantém em si para sempre a palavra e a sabedoria. Palavra e sabedoria são símbolos de sua vida espiritual, da sua auto-manifestação e da sua auto-realiação. O motivo da doutrina da trindade é esse falar de Deus em termos de Deus vivo, para tornar compreensível a presença do divino como fundamento vivo e criativo do mundo. Segundo Irineu, esses três são um só Deus porque possuem uma só ‘dynamis’, um só poder de ser, uma só essência, a mesma potencialidade. “Potencialidade” e “dinâmica” são termos latinos e gregos para significar o que expressamos em nossa língua pelo termo “poder de ser”. Tertuliano falava da substância divina uma desenvolvida na economia triádica. “Economia” significa “construção”. A divindade se constrói eternamente em unidade. Rejeita-se definitivamente qualquer interpretação politeísta da trindade. Por outro lado, Deus se estabelece como ser vivo, em contraposição à identidade morta. Assim Tertuliano empregou a fórmula “una substantia, três personae”, para falar de Deus”.
Entretanto, não foi só quanto à doutrina da Trindade que “Adversus Praxean” foi de suma importância para a formulação teológica da Igreja primitiva. Também no campo da Cristologia, uma frase “solta” do capítulo 27:11, “videmus duplicem statum, non confusum sed coinunctum in uma persona, deum et hominem Iesum” (“vemos o duplo estado, não confuso mas unido em uma só pessoa, o Deus e homem Jesus”) foi de vital importância para a definição da natureza de Jesus no Concílio de Calcedônia, em 451 d.C. Ainda que essa fórmula tenha passada quase desapercebida por mais de 200 anos, e tenha encontrado em Agostinho o seu, por assim dizer, recuperador, defensor e aperfeiçoador, chama a atenção o fato de Tertuliano tê-la colocado mais de dois séculos à frente do símbolo calcedônio, o que revela o quanto era avançado para o seu tempo.
Ainda são nebulosas as razões que teriam levado Tertuliano a aderir ao partido dos montanistas. Supõe-se que tenham sido decisivos para esta adesão o crescente poder da hierarquia eclesiástica e a sua tolerância em lidar com os pecadores arrependidos (principalmente aqueles que negavam a Cristo para fugir à perseguição e depois queriam retornar à Igreja). Jerônimo cita um motivo difícil de se comprovar, que teria levado Tertuliano às trincheiras montanistas: um suposto conflito dele com o clero de Roma. Considerando-se que o próprio Jerônimo vivia às voltas com crises com o clero romano, suas palavras devem ser recebidas com o cuidado da dúvida.
Entretanto, Paul Johnson afirma em seu livro “História do Cristianismo” (ob. cit., págs. 99/100), que:

“A gota d’água para Tertuliano ocorreu, segundo ele, quando um “grande bispo” (provavelmente Calixto de Roma) decidiu que a Igreja tinha o poder de conceder a remissão de pecados após o batismo, mesmo de pecados sérios como o adultério ou mesmo a apostasia. Foi essa reivindicação em benefício do clero – para ele, inconcebível – que fez do antigo flagelo dos hereges, por assim dizer, o primeiro protestante. E, uma vez tendo renegado os direitos clericais a esse respeito, Tertuliano foi levado, paulatinamente, a questionar os clamores clericais em favor da discriminação de status na Igreja. Em seus tempos de ortodoxia, atacara os hereges montanistas por ‘conferirem até à laicidade as funções do sacerdócio’. Agora, tendo repudiado o poder penitencial, tornou-se ele próprio montanista, pedindo, em “De Exhortatione Castitatis”:
‘não somos também sacerdotes leigos? (...) a diferença entre a ordem e as pessoas deve-se à autoridade da Igreja e à consagração de sua categoria pela reserva de um ramo especial para a ordem. Porém, onde não há assento de clero, você oferece e batiza e é seu único sacerdote. Pois, onde houver três, existirá uma igreja, ainda que sejam leigos (...) você tem os direitos de um sacerdote em sua própria pessoa, quando surgir necessidade.’
Desse modo, Tertuliano atacava bispos que apresentavam o que ele denominava ‘brandura’ no perdão dos pecadores e decaídos. Apelava para o ‘sacerdócio de todos os crentes’ contra os direitos ‘usurpados’ de determinados oficiantes, o ‘senhorio’ não-espiritual, a ‘tirania’ dos clérigos. Mesmo uma mulher, se falasse com o espírito, tinha mais autoridade, nesse sentido, que o maior dos bispos. Este representava um ofício vazio; ela, o espírito vivo. A divisão era bem delineada – entre uma Igreja de devotos, que administravam a si próprios, e uma imensa ralé de devotos e pecadores, que tinha de ser administrada por um clero profissional. Como poderia tal Igreja ser equacionada com a doutrina clara de S. Paulo? Tertuliano leu Romanos, como faria Lutero. O Espírito, a seu ver, não relaxa seu rigor; julga sem parcialidade nem leniência e jamais perdoará alguém em pecado mortal.”