sábado, 16 de agosto de 2014

O Papa sobre esta pedra?

''Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: ... tu és Pedro [petros] e sobre esta pedra [petra] edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela''. - Mateus 16:16-18

''Apascenta os meus cordeiros... Pastoreia as minhas ovelhas... Apascenta as minhas ovelhas''. - João 21:15-17 

Após a confissão da fé de Pedro, ele [Cristo] determinou que sobre construiria a sua igreja; a ele prometeu as chaves do reino dos céus... - Vaticano II [1]

Um Papa infalível como sucessor de Pedro, que tem as chaves do reino do céu, sendo o vigário de Cristo? Antes foi a declaração arrogante de que a pompa e os poderes foram herdados de Constantino. Hoje afirma-se que a declaração de Cristo a Pedro fez dele o primeiro papa, a pedra sobre o qual a ''única Igreja verdadeira'' foi construída, e todos os que seguiram nesse ofício têm sido seus sucessores, não importa a violência e as fraudes que usaram para consegui-lo, nem suas atitudes malignas. A autoridade que o papa possui hoje e a religião católica que ele lidera estão ancoradas sobre essa afirmação.

O papa é a Igreja Católica. Sem ele a igreja não poderia funcionar e nem mesmo existir. Pouco importa que o fiel católico comum pense ou faça. Mas as doutrinas e os feitos da hierarquia e principalmente dos papas continuam controlando a Igreja. E aí que o nosso foco deve estar, não na opinião de alguns católicos que dizem não acreditar na metade do que a Igreja ensina. (Essas pessoas não deveriam se chamar ''católicas''. Porque confiar numa igreja para obter salvação eterna se ela nem é digna de confiança em assuntos menos importantes?)

E que dizer da declaração de Cristo a Pedro: ``sobre esta pedra edificarei a minha igreja?'' (Mateus 16:18). Os protestantes argumentam que existe um jogo de palavras  no verso chave acima. No grego, ``Pedro´´ é petros, uma pedrinha, enquanto, ``pedra´´ no grego é uma petra, como a rocha de Gibraltar, por exemplo. Uma petra tão imensa obviamente só poderia ser o próprio Cristo e a confissão de que Jesus é o Cristo, de que Pedro acabara de fazer.

Os apologistas católicos modernos responde que Cristo estava provavelmente falando em aramaico, o que elimina o jogo de palavras e deixa Pedro como a pedra sobre o qual a Igreja foi edificada. Essa posição, contudo, certamente nega uma das doutrinas básicas do catolicismo romano, a profissão de fé tridentina. Ele exige que todos os clérigos, a partir do Papa Pio IV (1559- 1565), aceitem a interpretação das Sagradas Escrituras somente de acordo com o consenso unânime dos Pais [da Igreja].

O Testemunho dos Pais da Igreja

Os Pais da Igreja Católica Romana posicionaram-se unânimente contra a interpretação católica atual. E é Von Dollinger, um católico devoto, uma autoridade da história eclesiástica e que ama a sua Igreja, quem aponta para esses fatos.

Como os ``Pais da igreja´´ (líderes da Igreja até o papa Gregório, o Grande, que morreu em 604) interpretam esta passagem?

Acontece que nesse assunto em particular eles são unânimes em concordar com a posição dos protestantes. Nenhum deles interpreta essa passagem como os católicos são ensinados a entendê-la atualmente.

Para estar de acordo com o ensino unânime dos Pais da Igreja, um católico teria de rejeitar o dogma de que Pedro foi o primeiro papa, que ele era infalível e que transmitiu sua autoridade a sucessores. O historiador e  católico devoto Von Dollinger lembra fatos inegáveis.

          De todos os Pais que interpretam estas passagens  nos Evangelhos                 (Mateus 16:18, João  - 21:17),                nenhum as aplica ao bispo           de Roma como sucessor de Pedro. Quantos Pais se ocuparam com                   esses textos, mas nenhum daqueles cujos comentários possuímos - Orígenes,          Crisóstomo, Hilário,                Agostinho, Cirilo, Teodoro e aqueles          cujas interpretações são coletadas as centenas, - têm sequer                     insinuando que o primado de Roma é a consequência da comissão e promessa           feita a Pedro!

           Nenhum deles explicou que a pedra ou fundamento sobre o qual Cristo construiria a sua Igreja seria              o ofício dado a Pedro que devia ser transmitido aos seus sucessores, mas entenderam que se tratava            do próprio Cristo ou da confissão de fé de Pedro sobre Cristo; muitas vezes afirmando que eram as duas coisas juntas.

 Em outras palavras, ao contrário do que a maioria dos católicos tem aprendido, os Pais da Igrja Católica Romana se posicionaram-se  unanimente contra a interpretação católica atual. E é um católico devoto, uma autoridade da história eclesiástica e que ama a sua igreja, que aponta para esses fatos.

Outros historiadores católicos concordaram com Von Dollinger. Peter de Rosa, também católico devoto, habilmente contesta a supremacia e a linha contínua de sucessão papal desde Pedro.

       Pode ser um choque para eles [católicos] saber que os grandes Pais da igreja não viam conexão alguma entre a declaração (Mateus 16:18) e o papa. Nenhum deles aplica ''Tu és Pedro'' a alguém mais senão a Pedro. Um após outro, todos analisaram-na: Cipriano, Orígenes, Cirilo, Hilário, Jerônimo, Ambrósio, Agostinho. E eles não são protestantes.

        Nenhum deles se chama o bispo de Roma de ''pedra''  ou aplica especificamente a ele a promessa das chaves do reino. Isso é tão supreendente para os católicos, como se eles não pudesses encontrar menção alguma dos Pais sobre o Espírito Santo e a Ressurreição dos mortos...

         Para os Pais é a fé de Pedro - ou o Senhor em quem Pedro deposita sua fé         - que é chamado de ''pedra'' e não Pedro. Todos os concílios da igreja,          de Nicéia,no século IV, ao de Constância, no século XV, concordam que o         próprio Cristo é o único fundamento da igreja, isto é, a pedra sobre o qual       a igreja se sustém.

      ...nenhum dos Pais fala de de uma transferência de poder de Pedro aos que o                           sucederam ... Não há indicação alguma de um ofício petrino permanente.

              Então a igreja primitiva não olhava para Pedro como bispo de Roma, nem, por                          conseguinte, pensava que todo bispo de Roma seria o seu sucessor... Os evangelhos            não criaram o papado; porém o papado buscou apoio nos evangelhos [mesmo que                    isso não seja possível] .


O fato dos papas durante séculos terem se baseado em documentos fraudulentos (A doação de Constantino e os Falsos Decretos) para justificar sua pompa e poder, após terem sido expostos como deliberadas falsificações, mostra como esses ''vigários de Cristo'' não apreciava a verdade. Também nos mostram que naqueles dias os papas não baseavam  suas justificativas para a sua autoridade papal e a suposta sucessão apostólica desde Pedro em Mateus 16:18. Se isso ocorresse eles não precisariam de documentos falsos para autenticar sua posição. Tal aplicação para as palavras ''Tu és Pedro'' foi inventada muito mais tarde.

Quem é a Pedra?

A verdade sobre o assunto não depende da questionada interpretação de alguns versículos , mas sim da totalidade das Escrituras. O próprio Deus é claramente descrito como a ''pedra''  ou ''rocha''  infalível de nossa salvação através de todo o Antigo Testamento. (Deuteronômio 32:3-4; Salmos 62:1-2, etc.) Na verdade a Bíblia declara que Deus é a única pedra: ''Pois quem é Deus, senão o SENHOR? e quem é rochedo, senão nosso Deus?''  (Salmos 18:31).

O Novo Testamento torna igualmente claro que Jesus Cristo é a pedra sobre o qual a igreja é construída, e que Ele, sendo Deus, e um com o Pai, é, portanto, a pedra. Cristo e seus ensinamentos (Mateus 7:24-29) são rocha onde o '' homem prudente edifica sua casa'', e não pedro. O próprio apóstolo Pedro  frisa que Cristo é a ''pedra angular'' sobre o qual a igreja é construída. (I Pedro 2:6-8). E ele cita uma passagem do Antigo Testamento para enfatizar isso.

Paulo, do mesmo modo, chama Cristo, '' a pedra angular''  da igreja e declara que a Igreja também é edificada ''sobre o fundamento dos [todos] apóstolos e profetas''. (Efésios 2:20). Esta declaração nega claramente que Pedro tenha uma posição especial no fundamento da Igreja.